sexta-feira, 2 de março de 2007

Mais um atentado a liberdade e a beleza da vida

Mais uma barbárie e muita, muita covardia

O caso do pequeno João Hélio é daqueles que quando me vêm à mente,
faz tremer as pernas, embrulha o estômago;
aí corro para tomar um copo de água bem gelada, para seguir a vida.
Minha defesa imediata, é sonhar.
(porque sei que logo logo mais um novo caso vai ser mostrado pela mídia, vai ser nacional e internacional). Agora foi a Priscila.
Sonhar com os meses de janeiro (mês das chuvas) de chupar jabuticabas no pé, lembrar das crianças correndo nas enxurradas,..e aí: plim, plim, acordei

Aliás acordei mesmo quando li a coluna do jornalista
Tião Martins no jornal Hoje em Dia, publicada no
dia 26 de fevereiro com o título:
Tá ligado, mano? (Parte II),
aí comecei a entender como aqueles três caras tiveram coragem de arrastar o João Hélio, com seus seis anos de vida, por sete quilômetros!

Na coluna ele começa recordando uma entrevista que o chefão do
PCC paulista deu a imprensa em maio de 2006.
Vamos ver nua e cruamente, que bandido é bandido mesmo, não está brincando nem fingindo para a mídia;
como fazem os bandos de bandidos políticos, cruéis, com aquelas carinhas engravatadas, falando cinicamente para os microfones.
Os políticos adoram estes casos atordoantes, porque aí o mídia tira o foco deles e de suas falcatruas.
Cadê projetos e investimentos em educação e em emprego para dar dignidade ao homem, cadê o investimento no futuro.

Mas o que vamos ler agora é proibido para menores, ainda bem que nossa população é analfabeta!
Retirei e reproduzo da coluna do Tião Martins:
...Na entrevista, o repórter perguntou a certa altura se Marcola tinha medo de morrer.
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar. Mas eu posso mandar matar vocês lá fora. Nós somos homens-bomba. Na favela são cem mil homens-bomba. Estamos no centro do insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira.
O bandido teorizou: “Estamos diante de uma espécie de pós-miséria, que gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet e armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo”.

E prosseguiu Marcola, entre gargalhadas:
- Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produtos vêm de fora, somos globais.

Agora para terminar, a despedida do cara:
- Somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas. Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas. Mas a gente acaba arranjando uma daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou, Ipanema radioativa?
Percam as esperanças. Estamos todos no inferno.

Preciso respirar de novo, tomar mais um copo de água gelada, e sonhar.
Recordo então o trecho final da música “Contos da Lua Vaga”, dos mineiros Beto Guedes e letra do poeta Márcio Borges:

...”O que será de nós,
se estivermos cansados da verdade, do amor.
Esperança viva que a mão alcança
vem com seu passo firme e
rosto de criança,
a maldade já vimos demais”.